O que é pericorese? Como explicar a trindade?

I – Introdução

Afinal de contas o que é a pericorese? Qual a origem da pericorese? O que é a trindade? Como pode existir um Deus em três pessoas?

Irei expor aqui algumas afirmações e tentar explicar com referências bíblicas e literatura teológica, contudo saiba que os grandes teólogos da história assumem as suas limitações para entender plenamente a trindade, o que provavelmente ocorrerá com você também.

Para entender o que é a pericorese é comum se ter dificuldades de encontrar explicações quando vamos fazer a própria busca do nome em dicionários, comentários bíblicos e teologias sistemáticas, visto que os termos empregados na escrita se distinguem em três formas.

Pericorese é a expressão traduzida para o português (SOARES, 2020), contudo outras obras mesmo em língua portuguesa preferem deixar o termo nas formas originais de mencionar, perichoresis (WILLIAMS, 2011), perikhóresis (PIKAZA; SILANES, 1998) e até mesmo perikhórein (PIKAZA; SILANES, 1998).

Estas formas apresentadas são apenas as variações básicas do termo em estudo, visto que existem uma série de variações de traduções da ideia do termo (PIKAZA; SILANES, 1998). Contudo o foco deste artigo não é ser erudito, mas sim transmitir a ideia central deste tema com a profundidade mínima necessária que o termo exige.

II – Desenvolvimento

Primeira afirmação: Existe um só Deus em três pessoas

O termo pericorese foi empregado inicialmente fora dos círculos teológicos, mas sim como um conceito estóico aplicado a física e é difícil ver menção a este termo em proposições teológicas antes do século IV (PIKAZA; SILANES, 1998).

O termo pericorese foi empregado dentro do âmbito teológico inicialmente, provavelmente por Gergório Nazianzeno no âmbito da cristologia para explicar as naturezas humanas e divinas de Cristo (PIKAZA; SILANES, 1998).

Já aplicação para a doutrina trinitária do termo perikhóresis ocorre por Pseudo-Cirilo, em que ele apresenta a realidade intratrinitária. Assim demonstrando a ideia de unidade divina, em que ao mesmo tempo também apresenta diversidade de pessoas (PIKAZA; SILANES, 1998).

6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. 7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis e o tendes visto. 8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. 9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? 10 Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. 11 Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. (João 14.6-11) (ARC)

20 Não peço somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por meio da palavra que eles falarem, 21 a fim de que todos sejam um. E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. 22 Eu lhes transmiti a glória que me deste, para que sejam um, como nós o somos; (João 17.20-22) (NAA)

Segunda afirmação: Todas as pessoas da Divindade são Deus.

“O pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Portanto existe um ser, uma realidade. Não existem três Deuses, mas um só. A fé cristã não é triteísta. O pai é o único Deus e, de igual modo, o Filho e o Espírito Santo. Assim, o pai é totalmente Deus, o Filho é totalmente Deus e o Espírito Santo é totalmente Deus” (WILLIAMS, 2011, p. 77).

Eles são diferentes como pessoas, mas não na essência/substância.

“Então cada uma das três Pessoas estão uma nas outras e se interpenetram mutuamente, em que cada um contém a totalidade divina e é o único e indiviso Deus” (WILLIAMS, 2011, p. 78).

Terceira afirmação: As pessoas da Divindade são distintas

O Pai não é o Filho, e o Filho não é o Espírito Santo. De fato, nenhum dos três é um outro, existem três pessoas. E estas não podem ser confundidas como títulos ou figuras de linguagem e nem como termos empregados que tratem de modalidades de atuação de um único ser divino.

O que existe na prática são distinções permanentes que não podem ser confundidas com divisões dentro da Divindade. Assim cada substância é a essência no seu todo, carregando características que se distinguem entre si.

Assim segundo Williams (2011) existe uma triplicidade em que não é excluída na unicidade, formando assim Pai, Filho e Espírito Santo uma unidade da Divindade.

Quarta afirmação: Existe distinção de “propriedades” de atos internos do ente divino (propriedades internas)

Estas propriedades são exclusivas de cada uma das três Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo).

A propriedade de Deus Pai é geração. O Pai, que “não é gerado’: “gera” eternamente o Filho. Isso não é uma obra da vontade do Pai, mas uma propriedade de sua natureza. Assim, essa geração eterna não é uma obra de criação (o Filho não é criado), mas de geração.

A propriedade do Filho é a filiação. Ele recebe sua subsistência pessoal, mas não sua essência divina, do Pai e é eternamente o Filho. Portanto, ele é subordinado ao Pai, não em existência, mas em relacionamento.

(João 1.14,18) (NAA)

14 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.

18 Ninguém jamais viu Deus; o Deus unigênito, que está junto do Pai, é quem o revelou.

A propriedade do Espírito Santo é a processão. O Espírito Santo procede eternamente do Pai. Nunca houve um tempo em que esse processão não estava ocorrendo.

Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu lhes disse. (João 14.26) (NAA)

Quando, porém, vier o Consolador, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim. (João 15.26) (NAA)

Quinta afirmação: Existe distinção de “propriedades” de atos externos do ente divino (propriedades externas)

Trata-se de atos de poder em que Deus se estende para fora de si. O primeiro ato é o da criação por Deus Pai. O Pai é a fonte e a origem da criação. Dele surgiu tudo o que existe fora dEle.

O segundo ato é o da encarnação do Filho. O Filho eterno, a Palavra de Deus tornou-se carne. Sem deixar de ser Deus, ele se tornou homem. O Pai e o Espírito Santo também participaram da encarnação: o Pai deu o Filho, e o Filho foi concebido na carne pelo Espírito Santo. Entretanto, foi o Filho (não o Pai ou o Espírito) que se tornou ser humano. O terceiro ato é o da vinda do Espírito Santo. O Espírito Santo, terceira Pessoa da Trindade, veio sobre as pessoas. O Espírito, que procede eternamente da Divindade, foi enviado pelo Pai por meio do Filho. Assim, embora ele fosse o Espírito do Pai e do Filho, foi o Espírito Santo quem veio pessoalmente (WILLIAMS, 2011).

“A criação pelo Pai, a encarnação do Filho e a vinda do Espírito Santo: cada um é um ato peculiar de uma Pessoa divina; mas todos são atos poderosos de um único Deus.” (WILLIAMS, 2011, p. 80).

III – Considerações finais

Vale salientar que o Credo de Constatinopla (381 d.C.) afirma a divindade do Espírito Santo.

Com base nas evidências bíblicas e o forte amparo de literatura teologia antiga e contemporânea, chega-se na conclusão de que o Espírito Santo é Deus. Assim espero que entendas o Deus trino e a pericorese.

Assim uma série de consequências lógicas dessa afirmação podemos incorrer, dentre elas que os atributos de Deus como onisciência, onipresença, onipotência, eternidade, imutabilidade e etc pertencem ao Espírito Santo.

Que Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo estão presentes nas obras de criação, redenção, capacitação, santificação e etc na vida do homem.

Assim uma pergunta recorrente nas igrejas e em salas de Escola Dominial (EBD) é: podemos adorar o Espírito Santo? A resposta para isso é simples e direta. Não apenas podemos como devemos adorar o Espírito Santo.

Referências

CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Trindade_nicena.png> Acesso em: 27 dez 2020.

PIKAZA, X.; SILANES, N. Dicionário teológico: o Deus cristão. São Paulo: Paulus, 1998.

SOARES, E. O verdadeiro Pentecostalismo: A atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

WILLIAMS, J. R. Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal. São Paulo: Vida, 2011.